Evitação da demanda patológica: o que é?
Todos nós evitamos certas situações, seja porque não gostamos de uma tarefa específica ou porque não temos vontade de realizá-la
TEA - ESPECTRO AUTISTADIAGNÓSTICO TARDIOAUTISMO LEVE
7/10/20244 min read


Na evitação patológica da demanda, várias situações cotidianas são evitadas porque são percebidas como exigentes ou ameaçadoras. Descubra esse perfil pouco conhecido do autismo.
Todos nós evitamos certas situações, seja porque não gostamos de uma tarefa específica ou porque não temos vontade de realizá-la. Assim, podemos adiar aquele projeto que nos entedia ou nos recusar a fazer aquele favor a um conhecido que não queremos ajudar. Isso é natural. No entanto, para algumas pessoas, essa rejeição ocorre com muita frequência e inevitavelmente, diante de todos os tipos de demandas. Assim, falamos do que se conhece como evitação patológica da demanda.
Neste caso, a pessoa não se esquiva da situação por mero desgosto e porque assim o decidiu, mas é o elevado nível de ansiedade que sente que não lhe dá outra opção. Seu comportamento pode ser visto pelos outros como opositor ou desafiador, mas na realidade é apenas uma forma de lidar com o desconforto interno.
O que é evitação de demanda patológica?
A evitação da demanda patológica é considerada um perfil de autismo. E é que esse espectro autista abrange realidades muito diversas e das quais ainda não temos conhecimento suficiente. Portanto, as características e necessidades das pessoas com evitação da demanda patológica não são muito bem compreendidas e atendidas.
Este termo foi usado pela primeira vez pela psicóloga Elizabeth Newson, mas foi apenas algumas décadas atrás que começou a receber atenção, começando a aparecer em conferências e publicações científicas.
O conceito refere-se a uma constante resistência ou evitação das exigências da vida diária. Diante de qualquer demanda diária, por menor que pareça, a pessoa pode reagir com rejeição, utilizando diversas estratégias para fugir ou se livrar dela.
Essa é a principal característica desse perfil, que já se manifesta na infância e costuma perdurar até a idade adulta. Mas por que esse comportamento? O que acontece é que, diante de um pedido ou exigência, a pessoa sente que perde, porque o outro é colocado em posição de autoridade. É o que acontece, por exemplo, com a criança que é solicitada a não tocar em um objeto delicado.
Por outro lado, a pessoa também sente que perde autonomia, já que alguém a está dirigindo. Embora para a maioria de nós isso não seja um problema, a pessoa com PDA percebe a demanda como uma ameaça e seu sistema nervoso fica desregulado. De alguma forma, ela sente que está perdendo o controle e isso a leva a fazer todo o possível para recuperá-lo, o que envolve várias ações, por exemplo:
Rejeitar ativamente as demandas.
Evitar isso mudando de assunto, dando desculpas ou deixando para depois.
Concentrar-se em fazer exatamente o oposto do pedido (seguindo o exemplo anterior, a criança pode se concentrar em tocar repetidamente no objeto do qual pediu para se afastar).
Se não for possível fugir da demanda ou recuperar o controle, ou se a outra pessoa insistir, é possível que a pessoa sofra uma crise ou colapso, devido ao nível de ansiedade que experimenta.
O que é percebido como uma demanda
Essa reação de rejeição, luta ou fuga pode aparecer em qualquer pessoa; porém, na esquiva patológica da demanda, ela é desencadeada por diversas solicitações que parecem não ter grande importância. Por exemplo:
Pedidos diretos, como “você tem que arrumar a cama”.
Perguntas como “o que você quer comer?”
Horários e limites de tempo impostos para concluir uma tarefa.
Situações mutáveis, novas ou incertas sobre as quais você não tem controle.
Qualquer coisa que implique um sentimento de obrigação, de ter que cumprir uma tarefa, mesmo quando é por necessidades pessoais. Por exemplo, ter que levantar em determinado horário, ter que comer ou tomar banho.
Situações em que se cria uma exigência ou expectativa em relação à pessoa. Por exemplo, quando você recebe um elogio, isso é percebido como uma exigência de desempenho no mesmo nível em ocasiões futuras.
Eventos ou situações que produzem sobrecarga sensorial.
Em suma, evitam-se situações desagradáveis que geram desconforto, alteram a rotina ou não despertam interesse. Mas, mesmo um hobby, um plano apetitoso ou uma necessidade básica podem ser percebidos como uma demanda que desencadeia essa necessidade imperiosa de evitá-la.
Compreensão e intervenção na evitação da demanda patológica
É importante entender que ao evitar a demanda, a pessoa não está sendo rebelde ou buscando desafiar, é uma reação inevitável a esse sentimento de exigência e perda de controle. Além disso, não podemos esquecer que se trata de uma pessoa no espectro do autismo.
Certamente, foi visto que esse perfil apresenta uma aparente maior sociabilidade e talvez um bom funcionamento, por isso suas necessidades e particularidades são negligenciadas. No entanto, continua a ter dificuldade em compreender os códigos sociais, as suas emoções são intensas e avassaladoras e tem interesses obsessivos ou restritos.
Assim, um primeiro passo fundamental (que deve ser dado tanto pela pessoa como pelo seu ambiente) é compreender a sua realidade e aceitá-la como ela é, para poder fazer os ajustes e adaptações necessários. Estes podem incluir:
Disfarçar demandas. Por exemplo, transformando-as em uma brincadeira no caso das crianças ou buscando torná-las mais agradáveis ou suportáveis no caso dos adultos.
Compartilhar as demandas. E é que para a pessoa pode ser mais fácil aceitar cumprir uma tarefa na empresa e junto com outra pessoa, do que aceitar a exigência de cumpri-la sozinha.
Oferecer explicações e um senso de controle. Na medida do possível, entender por que uma demanda é necessária e ter alguma autonomia para atendê-la é útil. Para as crianças, isso pode ser visto como uma oferta de múltiplas opções; para os adultos, pode significar encontrar empregos que ofereçam flexibilidade e baixa hierarquia.
Dê à criança (ou dê ao próprio adulto) um tempo sem exigências, no qual ela possa se sentir completamente livre.
Em suma, a chave é que a pessoa possa tomar consciência de sua evitação patológica da demanda, entender por que ela ocorre e quais estratégias ela usa para evitá-la.
A partir desse entendimento, você terá mais condições de implementar ajustes que o ajudem a lidar com a ansiedade que o processo gera. No caso das crianças, são os adultos responsáveis que podem precisar de apoio profissional para entender as necessidades da criança e saber como proceder.
Fonte: https://amenteemaravilhosa.com.br/evitacao-da-demanda-patologica-o-que-e/ publicado originalmente em 08/05/2023. Acessado em 09/07/2024.
Psicóloga Sandra Roos
Atendimento especializado em saúde mental e neurodiversidade.
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